sexta-feira, 13 de abril de 2018

A Quiet Place (2018)

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Um Lugar Silencioso de John Krasinski é uma longa-metragem norte-americana centrada na interacção de uma família forçada a viver em silêncio num meio isolado como forma de escapar a uma misteriosa criatura que caça e ataca quando escuta o mais ínfimo dos ruídos.
Krasinski juntamente com Bryan Woods e Scott Beck escreveram o argumento desta inesperada e surpreendente história que leva o espectador para a vivência quase improvável de uma família que não só tem de viver num silêncio sepulcral como principalmente escapar a um perigo invisível que ataca ao mínimo ruído existente. Num mundo onde a presença humana parece ter desaparecido do mapa, como escapar a um perigo que não se observa?
A dinâmica desta longa-metragem é imediatamente cativante não só pela forma como se desenha a vivência desta família encabeçada por Emily Blunt como "Evelyn" e John Krasinski como "Lee" na qual a sobrevivência dos seus três filhos é a prioridade máxima. Não existe vida aparente para além dos cinco nem tão pouco qualquer tipo de notícia do mundo exterior à sua pequena comunidade onde apenas eles resistem. As poucas notícias que chegam ao espectador são aquelas de jornais que guardam no seu bunker improvisado remetentes a tempos não tão distantes onde se percebe que o planeta Terra foi alvo de uma invasão alienígena. Ao 89º dia compreende o espectador que os desaparecidos são às centenas de milhar, que as cidades estão desertas - principalmente as mais pequenas onde a acção de A Quiet Place se desenrola - e que a necessidade de sobreviver é em igual proporção àquela de manter o silêncio como uma constante na própria dinamização desta história e da original forma de comunicação entre as personagens que transformaram uma aparente debilidade de um mundo normal numa técnica de escapar neste nova forma de sociedade que desconhece o dia de amanhã.
Do mundo exterior pouco se sabe. A comunicação é inexistente e apenas as informações dos "primeiros dias" subsiste. Mais de um ano depois da invasão e da destruição inicial, os alimentos escasseiam e já não existe nada para pilhar nas lojas tendo a sobrevivência de ser efectuada por mão própria e com o pouco que a terra ainda pode fornecer. No entanto chega ao espectador a realidade de "Evelyn" que se encontra no final da sua gravidez, que o espectador compreende que é esta nova forma de vida, que poderá dar continuidade àquilo que resta da civilização, que poderá pôr em risco a sobrevivência de uma família que já se deparou com a morte de um dos seus. Sobreviver é assim indispensável mas... a que custo?
Se por um lado o espectador poderá imaginar que o género cinematográfico em questão está mais do que explorado com as inúmeras e por vezes infundadas histórias de invasão alienígena existe, no entanto, a confirmação de que Krasinski - actor, realizador, argumentista e produtor -, deu vida a um conto que prima pela quase total ausência de extraterrestres que apenas brevemente conhecemos nos segmentos finais, pela igualmente ausente existência de uma qualquer batalha que lançasse os sobreviventes nos seus abrigos (aqui apenas percebemos o que aconteceu ao mundo após a sua aparente destruição), mas sobretudo pela habilidade em inovar e transformá-la através da sua forma de comunicação que chega apenas pela interacção entre os diversos actores bem como pelas composições das suas personagens que sofrem, choram, riem e falam através da expressividade de um olhar ou pela língua gestual americana que aqui ganha lugar de língua de destaque revelando que as supostas pequenas debilidades do mundo tal como o conhecemos são, afinal, as formas mais válidas de sobrevivência numa espécie de nova sociedade incerta e insegura.
O silêncio, ou a sua ausência nos pequenos actos do dia-a-dia, acabam por transformar-se em A Quiet Place como uma outra forma de comunicação ou até mesmo numa espécie de personagem oculta na medida em que são as alterações a esse existir quotidiano que se assumem como os tais elementos de destaque nesta longa-metragem. Caminhar já não se faz da mesma forma, uma ida a um supermercado é agora feita no mais profundo silêncio e o simples mexer numa prateleira da cozinha lá de casa pode transformar-se num risco de vida constante. Tudo tem de ser feito no mais absoluto silêncio que se afirma e os ruídos existentes apenas são os daqueles elementos naturais que não perturbam a nova força dominante num planeta que o espectador desconhece estar ainda com vida humana ou já desta desprovido.
Krasinski que o espectador mais atento poderá reconhecer de inúmeras obras de comédia ou até mesmo pelo seu ar cool e descontraído, é aqui a força motora de um filme tenso e intenso de um terror que está para lá da simples invasão extraterrestre, e que se afirma pela forma pela incapacidade de expressar dor ou sofrimento correndo o risco de, ao estar exposto, se transformar na próxima vítima desse mal oculto e anónimo. Da comédia ao terror como a mesma ligeireza mas, ao mesmo tempo, firmando-se como um interessante e inteligente contador de histórias, Krasinski faz do seu A Quiet Place o filme sensação do momento que prima pela dinâmica da família em tempos conturbados independentemente do pano de fundo ser aquele que aqui encontramos mas que facilmente poderia centrar-se num qualquer outro contexto mais ou menos denso. No final, a grande questão que permanece para o espectador é apenas uma... até que ponto estaria qualquer um disposto a ir para salvar aquilo que tem de mais sagrado... ninguém lutará por um país, por uma crença ou por um governo... mas sim pela perpetuação daquilo que tem de mais sagrado... uma família que ama. E é em nome desse amor, ou por esse amor, que se sobrevive e vive o mais certo sacrifício...
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"Evelyn: Who are we if we can't protect them?"
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8 / 10
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