sábado, 7 de abril de 2018

A Casa Tutti Bene (2018)

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Cá por Casa Tudo Bem de Gabriele Muccino é uma longa-metragem italiana presente na secção Panorama da décima-primeira edição da Festa do Cinema Italiano a decorrer até ao próximo dia 12 de Abril no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Nas bodas de ouro de Pietro (Ivano Marescotti) e Alba (Stefania Sandrelli), toda a família reúne-se na ilha de Ischia na costa de Nápoles. Num encontro onde predomina a música e as conversas entre família, cedo se descobrem os pequenos grandes assuntos que ensombram as suas relações ao mesmo tempo que uma tempestade se abate sobre a região e faz desvendar todos os segredos que ninguém parece querer revelar.
Como em todas as relações familiares, também nesta existe todo um conjunto de assuntos e momentos que se ocultam nas dinâmicas entre os seus membros. As traições, a falta de amor, a idade adulta que começa a distanciar aqueles que outrora foram próximos ou, até mesmo, as dificuldades financeiras como um prenúncio de um qualquer falhanço naqueles que por ela passam. Gabriele Muccino e Paolo Costella assinam então o argumento de A Casa Tutti Bene transformando-o numa história moderna sobre uma família tradicional na medida em que recupera os velhos valores de união e respeito pela instituição familiar mas, ao mesmo tempo, revelando-a como um espaço de segurança sim... mas que solidifica também a sua inserção num mundo diferente daquele tido no seu núcleo aproximando-o, dessa forma, de toda uma dinâmica deste século XXI onde a paciência e a dedicação àqueles que partilham o mesmo sangue não é tão intensa como a esperada e onde cada um vive os seus próprios problemas.
Do adultério à falta de amor, das aparências às famílias desfeitas, aquilo que acaba por ser revelado em A Casa Tutti Bene é que a própria instituição familiar pode sair abalada de todos aqueles silêncios que se revelam como pequenos mas que com o tempo e com o desgaste se tornam grandes elefantes na sala sobre os quais ninguém quer falar - lugar comum à parte -, e que condicionam não só a dinâmica entre os vários membros da família como principalmente dentro do próprio "eu" individual que assume uma constante representação para com os demais ao ponto de (por vezes) poder ser insuportável. Esta dinâmica revela-se na longa-metragem de Gabriele Muccino quando o espectador observa os comportamentos e as relações familiares - por exemplo - à mesa onde os silêncios se acentuam, onde as revelações se ocultam e sobretudo nas assumidas trocas de olhares que comunicam mais do que qualquer conversa que se possa ter. É então que se compreende que a própria casa que a tanto já assistiu e que, na mesma medida, tanto já ocultou, que se descobrem conversas perdidas, silêncios confirmados, histórias recuperadas e uma constante nostalgia naqueles que partilharam, em tempos, aquele espaço ao qual agora regressam fazendo deslindar toda a alma do próprio espaço que se assume como uma personagem não oculta mas, ao mesmo tempo, não necessariamente confirmada.
É ali, fechados naquele espaço que, numa única noite, se descobrem todas as histórias individuais, todos os lamentos, todas as dores, sofrimentos e preocupações revelando, já bem perto do final, que ao observá-la - à casa - vazia, se compreende a sua verdadeira alma, as suas memórias e sons fundidos em cada um daqueles que por ela passaram e, por esse mesmo motivo, acaba por ser o renascer de uma dor constante ao confirmarem que o seu regresso àquele espaço não é tanto um regresso às origens mas sim às recordações que não poderão voltar a viver.
Sempre com um toque de comédia trágica ou drama cómico, A Casa Tutti Bene vive com as inspiradas interpretações de Pierfrancesco Favino, Stefano Accorsi, Claudia Gerini, Carolina Crescentini ou Valeria Solarino entre tantos outros que se revelam como portadoras de toda uma intensa história pessoal - das suas personagens - e que, no geral, não só contribuem para esta dramatização como, ao mesmo tempo, também se transformam num seu elemento mais frágil na medida em que o espectador espera descobrir mais sobre cada um deles não tendo, no entanto, mais do que aquela pequena revelação sobre a dinâmica entre personagens e não tanto sobre os dramas individuais de cada um deles.
Descontraído de uma forma geral mas com um acentuado toque melancólico, A Casa Tutti Bene leva a que o espectador reflicta sobre a sua própria família, sobre o seu passado e sobre os seus lugares partilhados para a compreensão única que nem tudo é (foi) perfeito mas que cada uma daquelas pessoas e cada um daqueles espaços contribuiu de forma determinante para a realidade que hoje cada um de nós vive e experimenta diariamente.
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6 / 10
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