segunda-feira, 11 de setembro de 2017

It (2017)

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It de Andy Muschietti é uma longa-metragem norte-americana, a mais recente adaptação de uma obra de Stephen King e o remake da mini-série de dois episódios com o mesmo nome de 1990, realizada por Tommy Lee Wallace.
Um ano depois do desaparecimento do irmão, Bill (Jaeden Lieberher) e um grupo de crianças inadaptadas e perseguidas pelos malfeitores mais velhos da cidade, vêem-se ameaçados pelo bizarro e maléfico demónio sob a forma de um palhaço Pennywise (Bill Skarsgard).
Atormentados por vidas não tão perfeitas, pela pré-adolescência e por um demónio que os persegue através dos seus mais vividos pesadelos, estas crianças têm de conseguir sobreviver às suas vidas para finalmente as poderem defender do seu próprio fim.
Adaptado de uma obra de Stephen King por Cary Fukunaga, Chase Palmer e Gary Dauberman tendo ainda como ponto de referência a já referida obra do início da década de 90, este It de Muschietti é - era - um dos filmes mais aguardados do ano primeiro por aqueles que experimentaram o terror do "Pennywise" de Tim Curry e finalmente por toda uma nova geração de fãs de terror desejosos de ver a mais recente adaptação da obra do mestre - leia-se King - que foi exponenciado por um trailer extremamente interessante partilhado por todas as redes sociais o que fez antecipar "o tal" filme de terror que tantos de nós esperávamos há anos.
Aquilo que It nos revela já era conhecido - pelo menos, e repito, para aqueles que vibraram com a mini-série da década de 90 -, começando pelas vidas atormentados de um conjunto de jovens no final dos idos anos 80 - acção deslocada da década de 60 na obra original -, onde numa localidade perdida do meio do mundo que se transforma, um inúmero conjunto de crianças desaparece sem que ninguém lhes consiga encontrar o rasto. De "Bill" (Lieberher), a "Beverly" (Sophia Lillis) cujo pai se insinua a uma jovem à beira da puberdade que se masculiniza para deixar de ser vista como uma presa, passando por "Ben" (Jeremy Ray Taylor) o miúdo novo e com algum peso a mais perseguido pelos mais velhos, sem esquecer "Mike" (Chosen Jacobs) atormentado com a morte dos pais, "Eddie" (Jack Dylan Grazer) cuja mãe havia transformado num hipocondríaco ou "Stanley" (Wyatt Oleff) e o seu medo a palhaços ou mesmo "Richie" (Finn Wolfhard) com o seu medo do escuro, todos eles encontram-se naquele momento das suas vidas em que o racional se confunde com o irracional e, típico de um momento de transformação, ressurgem todos os medos de, aquando crianças, os limitavam na sua vontade de explorar e de viver.
Desta forma "Pennywise" é, para lá do demónio que o espectador reconhece, a junção de todos os medos que condicionam a vontade humana de avançar, de arriscar, de conhecer e de essencialmente viver numa plena liberdade e felicidade. "Pennywise" explora e joga com os medos de cada um enquanto crianças que são... seja o medo do escuro, da perda, do abuso, da falta de segurança, da violência ou até mesmo da morte, todos eles são condicionados por medos (ir)racionais que os fazem permanecer nessa idade infantil onde estão e são mais vulneráveis. No fundo, "Pennywise" acaba por ser o tal monstro (ou demónio) que explora essa vulnerabilidade aproveitando-se, de seguida, do isolamento a que cada um se remete onde pode, então, atacar e sair vencedor.
Os jovens, cada um à sua maneira, encontram-se naquela idade onde tudo o que fazem ou dizem os condiciona na sua pertença a um grupo - ou clã - e, como tal, vulneráveis ao sentimento desse isolamento. Gostar de uma banda "proibida" pelos parceiros, de uma rapariga (ou rapaz) que não é aprovado pelo mesmo ou de quem alguém já gosta, a vontade de uma independência e desafio à autoridade parental que surge com o despertar da adolescência ou até nutrir sentimentos que sentem não poderem ser confessados a todos condiciona nos seus movimentos mantendo como único alternativa permanecer perto daqueles que como eles, de uma ou outra forma, partilham essa mesma identidade marginal e transformadora... tão complicada é essa adolescência!!!
Com um espírito muito ao estilo dos idos anos 80, It recorre àquilo que de melhor nos trazem as tecnologias dos anos '10 deste século XXI. Para todos os que viram a mini-série de Tommy Lee Wallace, recordam que não tínhamos ali grandes elementos construídos através do que o avanço tecnológico permite levando a que o espectador se perca - ou pelo menos disperse - por tudo aquilo que de forma aleatória compõe o cenário desta longa-metragem, sendo assim obrigado a concentrar-se nos pequenos detalhes e num não tão simpático "Pennywise" de Tim Curry que aparecia de surpresa para tentar levar a sua próxima vítima. Aqui o espectador tende a dispersar pela criação de efeitos especiais que tornam todo o espaço e ambiente mais negro e num "Pennywise" brilhantemente caracterizado ao qual Bill Skarsgard dá vida e muita alma, mas cuja energia se concentram num assumidamente maléfico sorriso e num quase histerismo com que resolve atacar/surpreender as suas vítimas. Se o "Pennywise" de Skarsgard vence pelo referido sorriso que amedronta sem que ele se movimente... era aquele composto por Tim Curry o que realmente meteu medo a toda uma geração nascida nos anos 80. Skarsgard - que repito tem uma brilhante composição - amedronta pelo sorriso do mal... Curry amedrontava porque o seu palhaço nem sempre bem caracterizado, com as suas referidas falhas e um sorriso inicialmente convidativo dava lugar a um monstro que o espectador reconhecia ser capaz de recear. Se um é o sorriso do mal... o outro é o sorriso de um mal escondido, oportunista, meticuloso e até mesmo estratega que primeiro alicia e só depois é capaz de se revelar... eis o verdadeiro mal!
Dos traumas de uma adolescência que se avizinha no meio local onde todos aparentam pertencer a um planeta distante - afinal, em It não encontramos um único adulto que aparente ser normal ou pelo menos que não tenha preocupantes desvios psicológicos -, esta longa-metragem assume-se sim como uma interessante e estimulante reconstrução de época (cronológica e estival) e numa união - ainda que extremamente rápida - destes jovens que procuram não só um grupo de amigos como também aqueles com quem se possam identificar e escapar das pressões sociais externas que sentem serem cada vez mais uma constante... afinal, enquanto crianças ninguém espera nada deles... mas há medida que se tornam jovens adultos as responsabilidades começam a surgir quase que como uma obrigação que os persegue. Poderá "Pennywise" ser esse aproximar da idade adulta onde tudo perde o seu encanto e magia? Da direcção de fotografia de Chung-hoon Chung que capta a luz daqueles que deveriam ser os dias despreocupados de um conjunto de jovens ao lado negro (da força?!) onde todos os pesadelos ganham vida à caracterização e direcção artística que contribui de forma decisiva para a atmosfera negra que se pretende sentir, It destaca-se pela inevitável prestação de Skarsgard enquanto o demónio "Pennywise" - que percebemos ser uma constante ao longo da História bastando para isso procurar os detalhes - e pela premissa de que a história não fica assim... afinal nenhum mal morre de forma eterna... nenhum amor se deixa por cumprir... todos eles chegam à idade adulta e claro... todos terão de se reencontrar... mais não fosse pela óbvia pista lançada no final de It.
Dinâmico, com alguns momentos capazes de provocar os seus sustos e negro quanto baste, It não consegue superar a obra original de 1990 que cultivou e explorou o medo de cada um e fez o espectador pensar naqueles tempos de criança onde todo o mundo à sua volta apresentava perigos que foram (ou não) ultrapassados. Aqui, resta a expectativa da sequela... e a forma como este conseguirá (ou não) manter-se fresco junto do espectador que esperava um devido desfecho para "Pennywise" que não dure mais de um ano. Assim... It é competente... mas deixa a vontade de poder ter mais.
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7 / 10
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